Nada mais comum, do que escutarmos em degustações, profissional ou em rodas de amigos, adjetivos estranhos para descrever o vinho. Alguns são realmente diretos, como alcoólico, intenso, ácido, forte. Já outros, muitas vezes tentam esconder seu desconhecimento, com palavras de efeito, como adstringente, complexo, desequilibrado, duro… Mas os melhores são os devaneios, depois da terceira taça. Pérolas como “um quarto com a porta fechada na fazenda”, “cela de cavalo molhada”, “pétalas de rosa ao entardecer”, surgem no meio da mesa…!
Não estou aqui para julgar a poesia que aflora nas pessoas, depois de algumas taças de vinho, mas não é fácil entender algumas definições com tanta subjetividade. Nossa memória olfativa/gustativa é formada ao longo de toda nossa vida. Então as papinhas que você comia quando bebê, os doces e pipocas comprados na saída da escola, aquele picolé caseiro do veraneio estão guardados em algum lugar de sua mente, e afloram juntamente com sentimentos bons e ruins. Mas isso é muito particular, e portanto, pelo menos em degustações profissionais ou mais sérias, deveríamos ser o mais direto possível.
Contudo, acredito que mais de 95% das pessoas que tomam vinho, o fazem sem muitas regras ou critérios. E mesmo aquelas que o fazem profissionalmente, tem seu momento de descontração. Ruim? Ao contrário. Acho muito salutar, o ato de “bebericar” vinho, sem compromisso. Sem precisar dar satisfação para ninguém, de quanto foi a garrafa, quem é o produtor, a safra ou as uvas. Beber exclusivamente, por prazer…! Os vinhos não precisam de regras, mas de critérios. Cada vinho tem uma personalidade, e portanto, um momento especifico para nos fazer companhia.
Mas… – pois tudo tem um mas – , é muito importante identificarmos, que vinhos beber e em que ocasiões. Garanto que tem um tipo de vinho para cada momento de nossa vida, de preferência a partir dos 18 anos, claro…! Sem firulas, identificar a personalidade do vinho, sem subjetividades, é uma tarefa individual, já que todos temos nossas preferências. Um dia de chuva, sozinho, pede um vinho mais “aconchegante” e “pacato”, que para mim, pode ser um malbec de preço mediano, como o Ahcaval Ferrer Quimera. Já uma farra, numa tarde de verão, com aqueles casais amigos de longa data, onde a conversa não para nenhum instante, e de repente, estão todos dançando, pede um italiano jovem e vivo…!
Tem vinho que pede conversa, já outros podem apenas ouvir nossos lamentos, depende de como estamos. Existe companhia melhor???