Enófilo, Enólogo ou Enochato?

No final de 2002, quando ainda trabalhava numa grande multinacional, recebi a ligação de um velho amigo que tinha ido para França cursar gastronomia com a seguinte pergunta: “E aí, a proposta de abrir um restaurante ainda está de pé?”. Já tinha sido fisgado pelo mundo da enologia, comprado alguns livros sobre o tema e começado a tomar vinhos, mas ainda era muito verde no assunto. Então passei a participar de degustações, cursos e palestras, tanto em Recife, como em São Paulo e no Rio de Janeiro.

Apenas em junho de 2004, abrimos nosso primeiro restaurante com ênfase no serviço de vinhos e na gastronomia de alta qualidade. Foi quando realmente entrei de verdade neste mundo. Desde então me perguntam se sou Enólogo ou Sommelier, e sempre corrijo dizendo que, por enquanto, sou apenas Enófilo!

Existem diversos textos na internet e em livros especializados explicando a diferença entre estes termos e resumidamente, podemos dizer o seguinte:

– Enólogo é o profissional com formação acadêmica ou técnica, que participa efetivamente do processo de produção do vinho. Trabalhando na vinícola desde a parte agronômica, como verificação do solo, plantação, irrigação e colheita, até o processo produtivo, como que uvas serão utilizadas no vinho, o processo de vinificação e o tempo de guarda em barrica, ele é peça fundamental para a qualidade do vinho. Apenas em 2007, com a regulamentação da Lei no. 11.476, que a profissão de Enólogo ou Técnico em Enologia passou a existir formalmente.

– Enófilo é, simplesmente, o “amigo do vinho”. Da origem grega Eno (Vinho) + Philia/Filo (Amizade, Amor Fraterno), este termo representa os indivíduos que gostam da bebida e fazem dela um amigo íntimo. Para se enquadrar nesta categoria, o indivíduo não precisa necessariamente ter conhecimento rebuscado no assunto, apenas gostar de degustar vinhos.

Para agregar ainda mais ao texto, podemos falar também do Sommelier, que é o profissional especialista no serviço de bebidas em um restaurante. E quando falamos em bebidas, este profissional tem também conhecimento em Licores e Destilados, não apenas em Vinhos como muitos acreditam. Existem diversos cursos de Sommelier em todo o mundo, mas um dos mais respeitados é o da Wine & Spirit Education Trust – WSET®, com sede em Londres, tem como perfil principal a padronização do conhecimento em Vinhos, Licores e Destilados. No Brasil, esta instituição é representada pela “The Wine School”, que oferece cursos em 4 módulos, com conhecimentos bem distintos. Apenas após a participação nestes quatro cursos, o candidato pode participar do mais completo curso sobre vinhos do mundo – o Master of Wine. No Brasil, apenas uma pessoa conseguiu este título (Dirceu Vianna Junior), e no mundo não são mais de 280 a possuir esta designação, conhecida como PhD do mundo do vinho.

Porém, como este grande mundo de gastronomia e vinho trás sempre mística e glamour agregados, as pessoas tendem a criar fantasias, a complicar o que pode ser muito simples, a reinventar situações para vender ilusões. Com pouco conhecimento, muitos já se transformam em profundos conhecedores e passam a destilar verbetes e clichês para seus convivas, sempre girando a taça de forma esnobe, para dar “credibilidade” a frases feitas. Estes são os Enochatos…!!!

Meu conselho para todos vocês, além de estudar, é acreditar na sua intuição pessoal, sem se intimidar com terceiros. O mundo do vinho é muito dinâmico e a evolução de nosso paladar acontece de forma gradual, mas acontece sempre. Se hoje você gosta de determinado vinho, tome este vinho, onde quer que você esteja. Mas não deixe nunca de arriscar, de experimentar, de tentar o novo, de desafiar seu conhecimento, pois assim você vai criando sua “biblioteca de sensações”, que facilitará muito sempre que você for tomar a próxima taça!

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